Pavilhão do Brasil Expo Osaka 2025

PAVILHÃO DO BRASIL NA EXPO OSAKA 2025

JAPÃO – 2022

TERCEIRO LUGAR – PROPOSTA PARA CONCURSO NACIONAL DE PROJETOS DE ARQUITETURA E URBANISMO.

Um edifício que se expande em espaços livres, avarandados e abertos ao caminhar. Lugar imaginado entre os alpendres brasileiros e os telhados japoneses; entre a cultura da materialidade contemporânea e as técnicas mais elementares de construção. Feito para abrigar a vida, construir a cultura, empoderar as pessoas.

O Pavilhão para o Brasil na Expo Osaka 2025 é uma oportunidade de nos percebermos como indivíduos, mas principalmente como uma comunidade de pessoas que aprendem entre si: formas de construir, maneiras de conviver, tolerar e respeitar.

É um lugar, também, para nos reconhecermos como realizadores de uma cultura da materialidade construtiva. Esse reconhecimento, do nosso papel da produção do espaço, está abrigado no campo da memória. E a memória é peça chave para o percurso do Pavilhão.

Elementos arquitetônicos ativam a memória, sejam da espacialidade: os lugares avarandados, os locais da sombra, e o chão permeável; ou da materialidade: a madeira, a palha, o metal, o concreto. Os corpos relembram, através dos materiais e do espaço, as experiências em lugares anteriores, outros contextos, tempos e formas.

Percorrer o edifício é, de certo modo, reavivar lembranças, memórias de habitar e de construir. E uma espécie de busca do lugar comum, daquilo que dividimos e que nos une.

Arquitetura é um ofício que permite o exercício de aprender enquanto nos aproximamos de cada questão de projeto. De alguma forma, compreender a maneira de construir um edifício é também entender os indivíduos já confrontados com problemas semelhantes do passado. E, sob certo aspecto, a técnica construtiva utilizada, os materiais, os saberes vernaculares são elementos em si mesmos, construções culturais, como tudo que envolve o saber fazer arquitetônico.

O caráter transitório do Pavilhão para o Brasil na Expo Osaka 2025 permite abordar as a construção desse edifício com certo grau de liberdade. Trata-se de um artefato edificado que durará algum tempo, sendo depois desmontado. A impermanência é então a chave para sua compreensão. O edifício, em uma situação assim, não é um modelo arquitetônico, mas sim um experimento inconstante que tende a acabar.

Num gesto contemporâneo, em uma atitude deliberadamente ambígua, buscam-se então as qualidades do material metálico, o aço, naturalmente esbelto, eficaz na reciclabilidade, leve no transporte, de fácil montagem e desmontagem. No entanto, abre-se espaço para estratégias como: indecisão, hesitação, imprecisão e incerteza. Sendo assim, o edifício se estrutura em aço, mas se constrói também com madeira e palha. Os materiais estão juntos, conectados, presentes nos elementos principais não só da tectônica, mas também na sintaxe visual.

É, a seu modo, um edifício que aparenta a madeira e a palha, mas que utiliza o argumento do caráter temporário da construção – um pavilhão – para estruturar-se a partir do aço.

A palha é um material transcultural. Atravessa tempos e lugares promovendo, quando bem utilizado, o correto abrigo do ser humano. Dos caboclos aos caiçaras no litoral do Atlântico; das casas quilombolas às choupanas afro-brasileiras; da maloca Yanomami às casas Kayabuki japonesas; da oca Kamayurá no Xingu à Villa Imperial Katsura. Brasil, Japão e o mundo tem na palha um elemento comum. Trata-se, além disso, de um material naturalmente biodegradável e, portanto, desejável no sentido da responsabilidade social dentro do ciclo da construção civil.

Os sistemas construtivos baseados nas palhas são primordiais, presentes na origem de edifícios construídos espontaneamente, com a matéria disponível, através dos saberes passados de geração em geração. Abundantes na natureza e presentes no vernáculo, são ainda pouco abordados na arquitetura contemporânea, apesar de integrarem sistemas de coberturas, pisos e paredes em diversas culturas. São inúmeras as qualidades desses materiais, sensoriais, táteis, acústicas, respiráveis, isolantes, e, para além desses aspectos, podem atuar como filtros visuais num edifício, despertando a curiosidade do visitante sobre aquilo que ainda está por vir.

O sítio de intervenção se constitui de um lote compacto para um programa de necessidades extenso. Apesar da limitação de proporções decorrente dessa compacidade, opta-se pela ocupação da projeção máxima de 70% da área disponível para construção.

Essa ocupação intensa do espaço disponível é convertida não numa massa única e compacta, mas em dois elementos complementares que definem sua arquitetura: o chão topográfico e o conjunto de volumes tronco piramidais suspensos.

O chão é escavado até a cota -2,5 metros para gerar alturas e espacialidades amplas e generosas. Trata-se de um chão tátil, um relevo que abriga a parte comercial e de serviços do programa, um lugar para ser percorrido pelas pessoas, mesmo que não haja interesse em visitar os espaços expositivos propriamente ditos. Sua topografia se reveste em madeira – um deque que se prolonga para além de seu perímetro – piso que conecta dentro e fora, coberto e sombreado na maior parte das vezes.

Imaginam-se, a partir desse chão acolhedor, volumes tronco piramidais, suspensos, que abrigam em si os espaços e percursos expositivos. A suspensão desses elementos, além de liberar e promover percursos nessa espécie de praça aberta, gera uma cobertura que abriga e ao mesmo tempo delineia a forma do céu. São volumes apoiados pela estrutura, revestidos em palha, constituindo as superfícies mais presentes no projeto.

Rampas conectam o acesso frontal do Pavilhão a esses dois sistemas arquitetônicos. O visitante pode escolher entre subir ao nível de exposição, descobrindo assim as espacialidades ocultas, ou descer ao nível da praça coberta, lugar no qual se tem contato com a cultura brasileira e a temática expositiva já num primeiro momento.

Dessa forma, o Pavilhão, suas circulações, passagens e rampas são já a exposição. Desde o chão até a cobertura a temática curatorial é apresentada ao visitante em espaços fruitivos, vívidos, tomados pelas pessoas.

Enquanto no térreo são organizados: espaço cultural, restaurante, café, loja, sala multiuso e sanitários de público; na cobertura são posicionados dois elementos distintos do programa: o mirante e a área administrativa.

Uma vez que os visitantes, em sua maioria, não necessitam de acesso aos ambientes de escritório, as circulações verticais são posicionadas levando em conta o fato de que os usuários do setor administrativo acessam e percorrem o edifício numa lógica distinta. Assim, são separados, deliberadamente, os espaços de trabalho, escritórios e sala de convidados, dos espaços ditos culturais, expositivos e de reunião de público.

Elevadores complementam o percurso expositivo que pode ser todo realizado em passarelas e rampas. O fluxo sugerido ao visitante é subir pelas rampas até as salas expositivas, ao mirante, para então descer, através do elevador de público, até o nível do chão. O mesmo elevador, pela capacidade instalada, pode atender à carga e descarga de elementos expográficos. Um segundo equipamento atende às áreas de convidados, multiuso e administração.

Para garantir segurança ao conjunto edificado são posicionadas duas saídas de emergência. Uma delas parte do piso administrativo e conecta diretamente ao pavimento de descarga no subsolo. A segunda ocorre na parte inferior da rampa em espiral frontal na qual uma escada e passarela conectam à entrada principal. A proteção contra incêndio está prevista em todos os elementos estruturais e de vedações do edifício. Estruturas em aço receberão pintura intumescente quando não expostas e, onde estiverem aparentes, revestimento resistentes ao fogo pelo tempo necessário. Da mesma forma, as vedações em palha receberão tratamento fogo retardante que impede a propagação de incêndio.

 

 

ARGUMENTO CURATORIAL

O ponto de partida da curadoria é o reconhecimento de que o Brasil é um país fundado em atos de violência. Atos de violência cometidos pelos colonizadores europeus contra os povos originários das terras que se tornariam o Brasil e, também, contra a população negra trazida à força de cantos diversos da África e, em seguida, escravizada aqui. É um país que se institui, portanto, ancorado no racismo. Atos de violência que estabeleceram, no Brasil, uma assimétrica distribuição de corpos brancos e não brancos em espaços públicos e privados, na qual os corpos brancos usualmente possuem poder de mando, enquanto os corpos não brancos são usualmente submetidos a um regime de controle e dominação. Situação que, ao longo de mais de cinco séculos, se reproduz e se atualiza.

Pensar o tema “empoderando vidas” no Brasil contemporâneo implica, portanto, reconhecer as várias estratégias de combate a essas violências e, também, a outras a elas associadas, como a heteronormatividade dominante. Implica igualmente reconhecer, porém, as estratégias que se ocupam em imaginar um outro espaço de vida no país, mais justo e inclusivo. Estratégias conjugadas que são formuladas, principalmente, por movimentos de resistência de povos indígenas, pela população negra do Brasil e por aqueles que não se permitem aprisionar em definições reguladoras de gênero. E que se expressam tanto em demandas por políticas públicas afirmativas quanto na invenção de um inédito território simbólico e artístico. Na exigência por reparação de danos causados a tantos e, ao mesmo tempo, na afirmação do direito à beleza e ao gozo para quem sempre o teve como impossibilidade. Vidas somente são empoderadas, afinal, se são autônomas para decidir seus destinos e para usufruir de conforto material e sensível. Se são capazes de articular casa e dança, escola e festa, saúde e arte, segurança e praia. Se podem afirmar-se como felizes.

A partir de uma expografia que refleteessa dupla e inseparável demanda, serão articuladas produções artísticas diversas que, em anos recentes, a tem formulado no campo do sensível, seja como imagem, forma, som, texto ou gesto.

SELEÇÃO PRELIMINAR DE OBRAS

Obras de afirmação do direito à felicidade e ao gozo compõem a maior parte da Exposição. Integram ainda obras mais claramente de afronta a danos históricos; e outras que, simultaneamente a isso, e também em outra direção, desenham outros futuros possíveis. Oito artistas contemporâneos informam e reforçam de diferentes maneiras as questões que orientam o projeto curatorial, compondo um conjunto de obras com variação em mídias (pinturas, fotografias, instalações, projeções), passíveis de serem adaptadas às implantações distintas e com possibilidade de encomendas específicas. São eles: João Bertholini [A], Afonso Pimenta [B], Gê Viana [C], Panmela Castro [D] Randolpho Lamonier [E], No Martins [F], Thiago Martins de Melo [G] e Aline Motta [H].

 

EXPOGRAFIA

Em sua maioria, as obras selecionadas reúnem uma coleção de corpos em manifestação de felicidade e gozo. Corpos deitados, reclinados, apoiados, descontraídos e entrelaçados. Os espaços propostos incentivam os visitantes a mimetizarem tais posturas ao longo do percurso, em um esforço de se potencializar a interação e a empatia entre público visitante e obras apresentadas. Por outro lado, as obras refletem também sobre a constante necessidade de conquista e reafirmação do direito à felicidade e ao gozo. A tensão, a instabilidade e a criatividade inerentes a esta luta constante são, também, manifestadas nos espaços do Pavilhão.

 

PERCURSO

Manifestações artísticas permeiam a totalidade dos espaços percorridos pelo público visitante, compondo um percurso expográfico dinâmico e diverso. No entanto, os principais espaços expositivos concentram-se no corpo suspenso revestido em palha do Pavilhão. Seis espaços distintos, intercalados por passarelas externas, compõem o percurso expográfico principal. Cada um deles apresenta um viés específico tanto do argumento curatorial quanto da volumetria arquitetônica em que estão inseridos. Paredes inclinadas, tetos virtuais e pisos deformados e deformáveis desafiam a geometria convencional de salas expositivas. Ao romperem a ortogonalidade e a rigidez, estimulam apropriações diversas, tanto artísticas quanto de visitação, ao longo do percurso expositivo, e se relacionam constantemente com o meio externo.

Ao adentrar o volume suspenso, o visitante se depara com um foyer organizador [1] cujas paredes são compartilhadas com o foyer de dispersão [6], no pavimento superior. Nesta antessala da exposição, tem contato tanto com o argumento curatorial, quanto com informações gerais sobre o pavilhão. Dois conjuntos de obras dominam as paredes inclinadas e introduzem de modo muito familiar e íntima a temática da exposição: direito à felicidade. São elas: a série Ester (2019) de J.Bertholini [A] e as fotografias das décadas de 1970 e 80 do Projeto Retratistas do Morro de A.Pimenta [B].

Atravessando a primeira passarela, chega-se à sala de exposição principal do pavimento inferior [2]. O espaço claro e homogêneo recebe os visitantes com obras da série Atualizações Traumáticas (2021) de Gê Viana [C]. A artista intervém em obras de Debret que retratam o período colonial no Brasil, incorporando costumes e códigos de heranças afroindígenas. O teto do espaço é povoado pela arte têxtil de R.Lamonier [E]. Em paralelo à revisão de passado proposta por Viana, a série Profecias (2018) problematiza o futuro, suas possibilidades e utopias [C]. O conjunto é melhor visualizado a partir do piso macio, feito em espuma de alta densidade e tecido tensionado. As telas de P.Castro [D], da série Vigília (2021), desafiam os visitantes a mimetizarem posturas de conforto dos corpos reclinados, recostados e deitados. A inclinação do piso em espuma conduz os visitantes ao óculo da geometria do edifício. Nele, a espuma dá lugar a um tecido, que permite que os vultos dos corpos deitados sejam visíveis a partir da praça inferior.

O espaço seguinte é ocupado pelas rampas em espiral [3] que delimitam um átrio central no qual está uma escultura suspensa – a ser encomendada especialmente para o pavilhão, dadas as especificidades do espaço, mas representada com uma variação de Uma promessa de R.Lamonier [E2]. O teto em espelho duplica a apreensão geométrica tanto da volumetria interna quanto da obra de arte. As rampas ascendentes levam o visitante até o terraço descoberto [4], dotado de uma série de dunas em piso antiderrapante para brincadeiras. Por entre as dobras do piso será instalada uma escultura em homenagem aos laços humanos entre Brasil e Japão – também a ser encomendada.

Voltando para dentro do corpo do edifício, o visitante chega à sala de exposição principal do pavimento superior [5]. Trata-se de um espaço escuro e imersivo. O teto é dominado por projeções de A.Motta [H] sobre tecido fluido, cuja geometria varia com o movimento do ar. As projeções interagem com um painel digital sensível ao toque, instalado na grande parede inclinada, e colocam a espacialidade da sala à disposição dos visitantes. Nas paredes, as telas de T. M.de Melo [G] A chegada de Ogum e Iansã pós-Eckhout (2019) e A Invasão de demônios a Pindorama, após Jean de Léry, Joãozinho Trinta, Tuiutí e Mangueira (2019), ladeadas pela série Encontros políticos (2021) de No Martins [F]. O conjunto de obras colorem a sala e falam ao mesmo tempo de afrontas e de prazeres, de luta e de alívio.

Por fim, outra passarela externa leva o visitante ao foyer de dispersão [6], no qual tem-se a oportunidade de encarar novamente, mas a partir de outro ponto de vista, físico e mental, as obras de J.Bertholini [A] e de A.Pimenta [B], dispostas nas paredes compartilhadas com o pavimento inferior.

Ao sair da exposição, o visitante é levado por elevador à praça externa principal, a partir da qual continua em contato com o interior do volume suspenso por três aberturas. A primeira delas [7], é dotada de instalação sonora – a ser encomendada. Pela segunda abertura [8], pode-se ver os vultos dos corpos deitados no tecido da sala expositiva. E a terceira abertura [9] oferece visão caleidoscópica das rampas em espiral.

O PROJETO

A EQUIPE

Autores Estúdio 41

Arq. Emerson Vidigal

Arq. Eron Costin

Arq. Fabio Faria

Arq. João Gabriel Cordeiro

Arq. Martin Goic

Colaboradores

Camila de Andrade

Charlles Furtado

Guilherme Fernando Pinto

Tamy Pesinato

Autores Tropo

Arq. Beatriz Alves Dutra

Arq. Gabriel Hildebrand Tomich

Arq. Marina Milani Oba

Colaborador

Gabriel Castro

Parceiria Local

KINO Architects

Curadoria

Moacir dos Anjos

Projetos complementares

PROAFA Engenharia

AVAC

Carlos Almeida

Estruturas

Gustavo Alves

Rui Furtado

Hidráulicas

Paulo Silva

Instalações Elétricas

Raul Serafim

 

FICHA TÉCNICA

Pavilhão do Brasil – Expo Osaka 2025 – 2022

    • Concurso Nacional para proposta arquitetônica, urbanística e estrutural para Pavilhão do Brasil na Expo Osaka 2025
    • Area: 3 132 m²

@ Estúdio41 Arquitetura. Design: 095
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