HORTOÂNDIA – SP – 2006
A conceituação para o desenvolvimento de um projeto com esse caráter arquitetônico deve transparecer os valores políticos de sua sociedade, assim como esclarecer a relação do complexo construído com a população local. Além disso, o projeto deve responder aos aspectos práticos e funcionais que o programa desafia. É a conciliação destas diretrizes conceituais e práticas que evoluem o espaço físico à condição de arquitetura, que elevam e marcam a identidade de uma cidade.
O conceito proposto para o Paço Municipal de Hortolândia nasceu da relação que a política deve ter com a cultura da sociedade contemporânea, em que a população deve participar mais do processo decisório de sua coletividade, compreender que o espaço político é patrimônio de todo cidadão e, assim, desvincular-se, como acontece no Brasil, da relação passiva que a população possui com seus governos. Logo, houve grande preocupação em fazer uma obra que atraísse a população para o complexo. Projetamos, então, uma praça de articulação de caráter sóbrio e que expresse valores como transparência e abertura política através edifícios do complexo, e que abrigará os eventos públicos. Portanto, a implantação do complexo organiza os edifícios dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário) integrando-os ao Centro Cultural, não apenas por participarem da praça de articulação, mas também por se transformarem em elementos de uso do próprio complexo cultural; logo que este os assiste como numa peça teatral.
Para que tal conceito se justifique funcionalmente, o Plenário da Câmara cumpre a função de plano de contemplação a uma arquibancada que norteia a elaboração do Centro Cultural, principalmente o projeto da biblioteca. Dessa forma, os cidadãos têm a possibilidade de observar o Plenário em pleno trabalho. Além disso, a fachada do plenário pode se fechar e permitir a projeção de imagens. Já a escada da entrada da Câmara conforma um patamar que também funcionará como palco da arquibancada em eventos públicos.
Terreno – Articulação – Circulação
É consenso comum no meio arquitetônico que um bom projeto é aquele que melhor se adapta ao terreno na solução da problemática projetual, que dependerá muito da relação da área projetada especificada no programa de necessidades com a área do próprio terreno.
No caso do novo Paço Municipal de Hortolândia, o terreno é suficiente para atender ao programa de necessidades exigido no termo de referência sem que se haja a necessidade de grandes movimentações de terra. Assim procuramos articular a distribuição e o nivelamento das edificações, que sempre tem o seu térreo num patamar coerente com a declividade natural do terreno, evitando assim a cara execução de muros de contenção. Contudo, o nível dos térreos da área cultural se mantém a mesma à do térreo do primeiro bloco da prefeitura (nível 621), possibilitando a criação do foyer de integração que será o acesso à biblioteca e ao teatro, em mesmo nível. Esta articulação também libera a diferença de nível necessária entre o acesso da sala de espetáculos e o seu palco. Ficando apenas o fosso da orquestra dependente de uma escavação para ser implantado.
O projeto da biblioteca está diretamente vinculado à arquibancada que ele conforma. Os espelhos desta arquibancada são vedados com vidro duplo jateados para um melhor tratamento acústico e para a entrada de iluminação difusa no espaço de leitura que se configura logo abaixo. A parte superior desta arquibancada oferece acesso ao segundo pavimento da biblioteca, onde se localiza seu auditório. Em função das passarelas e da arquibancada o pé-direito da biblioteca é alto e permite a criação de outro pavimento intermediário caso a biblioteca precise ser ampliada. Para que se aproveite melhor a área iluminada pela arquibancada, o piso da área de leitura encontra-se rebaixado, contudo, para evitar muros de arrimo neste patamar, eles são limitados, em suas laterais por taludes impermeabilizados, onde se instala uma laje elevada de estrutura independente para comportar grande parte do acervo da biblioteca, restando assim, muros de arrimo apenas nas paredes externas das salas de estudo, que estão em patamar ainda mais baixo.
O sistema viário interno do complexo desenvolve-se próximo aos limites do lote, permitindo assim que novos acessos sejam realizados – se necessários – à medida que o sistema viário externo vai se desenvolvendo juntamente com as novas vias e loteamentos que surgirem margeando o lote do complexo. Em primeira etapa, os acessos de veículos acontecerão em dois pontos da estrada municipal, justamente por se tratar de única via de acesso a todo o Paço Municipal. Contudo, caso a prefeitura resolva abrir alguma via de veículos ao longo da rede ferroviária, o sistema viário interno do complexo já é planejado para a abertura de um terceiro acesso. As vagas de estacionamento público vão se desenvolvendo ao longo dessa via interna perimetral que atende todos os edifícios. Dois estacionamentos cobertos são também projetados, logo abaixo às secretarias. Aproveitamos, com isso, o desnível do terreno para criar esses estacionamentos, que são de uso exclusivo para funcionários e admite o acesso exclusivo e seguro para o prefeito chegar ao seu gabinete. Há também, nesse desnível, o ambulatório, que se encontra centralizado em relação às secretarias – edifícios com maior fluxo de usuários por dia.
A praça cívica de articulação integra os acessos principais de todos os complexos do programa. Para propiciar a integração em nível entre os edifícios e configurar mais unidade à obra, existem as passarelas de ligação, que possibilitam ao usuário do conjunto um deslocamento mais ágil e seguro para qualquer ponto do Paço Municipal de Hortolândia, articulação essa necessária principalmente entre as secretarias da prefeitura.
Cada edifício é projetado com sua estrutura independente de outro edifício, respeitando assim o termo de referência, para que a construção seja executada em etapas. Igualmente, o termo sugere uma construção que valorize a pré-fabricação, assim projetamos uma estrutura modulada para pré-fabricados de concreto, por isso edifícios com no máximo 5 pavimentos. A exceção é o complexo cultural que exigirá tecnologias de concreto moldado em loco e treliças metálicas, justamente por essas estruturas se adaptarem melhor à lógica estrutural desta construção.
A recepção da prefeitura, por se tratar do edifício a ser construído em primeira etapa é a primeira construção de recepção do complexo. Está implantado próximo à estrada municipal e conforma o principal acesso de pedestres, próximo ao recuo de parada de veículos, ponto de ônibus e táxi, que também são idealizados para essa fachada.
A prefeitura divide-se em três volumes independentes, porém conectados. O primeiro é o de acesso e contém os elementos do programa que estão voltados somente para o público, ou seja: a central de atendimento, o protocolo geral e o auditório. Já os demais edifícios abrigam o gabinete do prefeito e as secretarias. Estas possuem um funcionamento horizontal, existindo, assim, apenas duas secretarias por andar. Para um espaço de trabalho mais agradável todas as secretarias possuem visualidade tanto para fora do lote como para a área verde interna que se situa entre estes dois edifícios. Além disso, as secretarias se integram verticalmente através de vazios internos cobertos que vão do térreo até a cobertura. Cada vazio comporta uma escada aberta, permitindo assim, a flexibilização dos pavimentos desses edifícios.
Os acessos de público funcionam de maneira similar para os dois edifícios de secretarias, por um núcleo de circulação vertical central ao seu edifício, que pode ser acessado diretamente pelas passarelas de integração. Este núcleo contém as portarias de suas respectivas secretarias, além de instalações sanitárias públicas, escada enclausurada, elevadores e escada aberta. Existem também núcleos de circulação restrita para os funcionários. Esses núcleos além de conterem os elevadores de serviço e a escada enclausurada, abrigam também as instalações sanitárias para funcionários, copa/ cozinha e estar, onde se encontra a escada aberta do vazio.
O espaço comercial do complexo encontra-se centralizado, logo abaixo à Câmara Municipal, no meio do fluxo de usuários que irão da Central de Atendimento até o Fórum e também da praça até a área verde interna, que é para onde o café/ lanchonete tem sua visualidade voltada com um agradável patamar ao ar livre. Seguindo o desnível do terreno, a diferença de nível entre as lojas e o piso da Câmara permite às lojas um pé-direito alto suficiente para um mezanino.
Localizado a frente do segundo bloco de secretarias da prefeitura e ao lado da Câmara municipal, o Fórum conformará a futura entrada de pedestres no outro extremo da praça de integração, por isso seu térreo possui um grande vazio que conectará esse novo acesso àquele espaço de eventos públicos. Já ao lado deste acesso estão as vagas de estacionamento coberto para os juízes que se separam por uma parede das vagas da polícia militar. Neste mesmo local, esta possui um acesso exclusivo, equipado com elevador próprio que permite levar com segurança o réu até o salão do júri.
Houve também grande preocupação para que o complexo, no resultado final de suas etapas construtivas, estivesse coerente com as composições que se desenvolvem ao longo da evolução de suas etapas de implantação. Para que deste modo, o complexo esteja sempre atendendo às expectativas de uma obra com identidade para o município de Hortolândia. É dessa forma que esclarecemos o funcionamento e a conceituação artística da obra que se propõe como futuro marco da cidade.
O PROJETO
A EQUIPE
Autores
Arq. Eron Costin
Arq. Cassiano Pitella Navarro
Arq. Felipe Sachs
Arq. Matheus Marques
FICHA TÉCNICA
- Área construída: 35.000,00 m²
- Área do terreno: 65.200,00 m²