Reconstruir a rua, transformar os espaços para acolher a pedestres, ciclistas e veículos. Ressignificar lugares de encontro para as pessoas. Promover as atividades econômicas existentes e também imaginar novas potencialidades no espaço público. Construir uma imagem simbólica da cidade a partir da construção dos lugares ao ar livre; espaços do lazer, do encontro e do bem estar.
Cidades com economia dinâmica, como Flores da Cunha, frequentemente repensam e planejam a evolução das suas estruturas e sistemas urbanos para promover a qualidade de vida das pessoas.
O projeto de requalificação da Avenida 25 de Julho se insere num esforço de olhar para o fenômeno da transformação de certos setores da cidade, especialmente aqueles locais em que a atividade econômica se transforma, imaginando o futuro desses espaços. Alguns bairros da cidade ganham hoje áreas habitacionais onde havia predominantemente comércio e indústria; outros lugares deixaram de ter uma fisionomia marcadamente rural e passaram a incorporar uma experiência de usos mistos.
As infraestruturas viárias e rodoviárias paulatinamente vão sendo reformadas de modo a permitir essa evolução natural da cidade. Em alguns casos, como no objeto do presente concurso, a realidade indica um caminho de qualificação da malha viária, pensando que essa transformação, ao abandonar um padrão rodoviarista, presente em certos trechos, ocorrerá de forma a garantir um lugar que ofereça qualidade de vida às pessoas que vivem no entorno da Avenida 25 de Julho.
O desenho proposto sugere então uma estratégia específica de aproximação ao problema de projeto: olhar caso a caso, trecho a trecho, de forma a identificar pré-existências e, a partir delas, implantar usos, atividades e sistemas
TRECHO 1 – SUL
Uma via parque, com o desenho focado nos pedestres e ciclistas. Pensada para absorver um fluxo de veículos constante, inclusive de grande porte, mas de baixa velocidade. Lugar pensado com ênfase no lazer, na caminhabilidade e na continuidade fruitiva dos percursos.
O trecho 01 – Sul da Avenida 25 de Julho apresenta um traçado típico de infraestrutura rodoviária, com faixas e acostamentos dimensionados para velocidades altas e alças viárias do tipo entroncamento e trevo. O projeto sugere a conversão desse trecho numa espécie de via parque linear, protegendo pedestres e ciclistas do trânsito de veículos e criando estruturas de apoio ao lazer cotidiano e à prática esportiva, especialmente para os moradores da região do entorno, mas que têm potencial para atender à toda cidade e também aos turistas que terão mais um ponto de interesse na região.
Como o perfil de atividades, junto à avenida, ainda é bastante marcado pela presença dos usos comercial, industrial e de serviços, são mantidas as possibilidades de circulação de veículos de grande porte e propostos retornos, facilitando a logística de transporte ao mesmo tempo em que protegem o centro da cidade desse tipo de trânsito veicular. Quando olhamos, nesse trecho, para os bairros que distam aproximadamente 100 metros da Avenida 25 de Julho, percebermos que além dos usos comerciais e industriais, existem áreas habitacionais carentes de equipamentos de lazer e de desenho adequado dos espaços públicos.
Em função disso, o coração do projeto, nesse trecho, são os canteiros centrais propostos no sistema viário. Neles são implantados equipamentos públicos que podem ser patrocinados e mantidos inclusive pela iniciativa privada, associando a marca das empresas a cada um desses espaços propostos. Quadras poliesportivas, quadras de tênis, centro de informações turísticas, pista de skate, áreas de lazer infantil, pista de rolimã, entre outros, são alguns dos equipamentos propostos ao longo do sistema de espaços livres propiciado pela implantação do canteiro central.
Todas as infraestruturas são conectadas por ciclovias e pistas de caminhada. Em pontos chave são implantados estacionamentos de veículos, de forma que moradores de outros bairros ou turistas também possam utilizar os equipamentos públicos propostos.
TRECHO 2 – CENTRO
Uma rua arborizada, cheia de vida. Um espaço público que valorize o comércio local e as fachadas ativas presentes e futuras. Lugar dos edifícios com importância histórica, dos marcos simbólicos, nos quais a cultura da cidade se mostra viva.
O trecho central da Avenida 25 de Julho é hoje configurado a partir da diversidade de usos e atividades presentes em suas construções lindeiras. Em vários desses pontos temos fachadas ativas e a economia local pode se beneficiar da transformação desses quarteirões numa via calma, com tráfego de veículos limitado a no máximo 30km/h.
Partindo da premissa de que a implantação do binário viário nas Ruas Frei Eugênio e Borges de Medeiros, vai aliviar o tráfego de veículos na Avenida 25 de Julho, sugere-se a implantação de uma mão única de veículos, sentido Sul-Norte, de forma a amenizar os efeitos da passagem de automóveis nesse trecho. Assim, é possível ampliar as calçadas, implantar uma ciclovia, e também incorporar a arborização ao sistema de espaços livres proposto. As calçadas projetadas reservam espaços junto às fachadas para a possibilidade de instalação de mesas e atividades gastronômicas. Dessa forma, incorpora-se a possibilidade de mix de usos; restaurantes, bares, cafés, entre outros, podem ativar o comércio local, atraindo turistas que já buscam a cidade pela indústria vinícola presente.
Em diversos locais propõe-se a manutenção da faixa para estacionamento com a função de atender às frentes das lojas.
A iluminação pública é pensada para o conforto e segurança dos usuários, e diversos equipamentos de mobiliário urbano são sugeridos: bancos, lixeiras, paraciclos, etc.
Como consequência da proposta de binário, propõe-se que o trânsito da Rua São José ocorra no sentido Oeste-Leste, permitindo eliminar a rotatória e melhorar a caminhabilidade da esquina com a Avenida 25 de Julho. O desenho proposto confere assim maior segurança e conforto aos pedestres e ciclistas, já considerando que a velocidade dos automóveis será reduzida.
Na outra extremidade da Avenida, entre a Rua Júlio de Castilhos e a Rua Vicenza, o trânsito de veículos volta a funcionar com mão dupla, permitindo fazer a transição entre o final do Trecho 02 – Centro e o início do Trecho 03 – Norte.
TRECHO 3 – NORTE
Espaço em transformação, interface entre urbano e rural. Lugar em que a produção vinícola se encontra com a cidade. Local de proteção para a paisagem rural ao mesmo tempo em que se configuram novos espaços para o crescimento urbano municipal.
Com o surgimento de novos loteamentos e condomínios, além do potencial para expansão imobiliária, o Trecho 03 – Norte é hoje predominantemente caracterizado pela paisagem dos vinhedos. Trata-se de uma síntese, próxima ao centro da cidade, das características da zona rural de Flores da Cunha.
O projeto incrementa a proposição existente de implementação de ciclovia, acrescentando calçadas em ambos os lados da via, e sugerindo paradas de ônibus possíveis ao longo do percurso. No acesso aos loteamentos existentes implantam-se pequenas rotatórias para resolver o fluxo e cruzamento nos dois sentidos. Propõe-se também uma arborização de sombreamento de grande porte, de um dos lados da via, compondo com as linhas de palmeiras existentes.
Na extremidade norte do trecho, como marco simbólico para a entrada, no local do portal existente, sugere-se um elemento vertical que sinalize a paisagem. Durante o dia, sua materialidade em concreto aparente impõe-se como visualidade. No período noturno a iluminação interna e o efeito facho de luz para o topo identificam o acesso ao município de forma sutil, também para quem vai pela ERS-122.
Projetos de natureza urbana, sejam de planejamento ou desenho, sempre carecem de diálogo com múltiplos agentes. Essa proposta se coloca como um traçado de intenções preliminares, podendo, em fases posteriores, passar pela interlocução com a comunidade local, com a administração pública e com os envolvidos na construção dos espaços públicos da futura Avenida 25 de Julho. Entende-se então o projeto como toda proposição urbanística: obra aberta, construção colaborativa; como deve ser sempre quando a cidade é o objeto do debate das pessoas.
O PROJETO
A EQUIPE
Autores
Arq. Emerson Vidigal
Arq. Eron Costin
Arq. Fabio Faria
Arq. João Gabriel Cordeiro
Arq. Martin Goic
Colaboradores
Beatriz Dutra
Caetano Küster
Camila de Andrade
Evelyn Farias
FICHA TÉCNICA
Avenida 25 de Julho – Flores da Cunha – RS – 2022
- Projeto de espaços livres, paisagismo e urbanização: Extensão total de 5,8 km e área aproximada de 26,7 hectares