Quando o vento começa a soprar com força e a neve desce impetuosa do céu cinzento, é natural que o ser humano busque abrigo. Um refúgio urgente e seguro, onde o corpo e a mente possam encontrar proteção. Em momentos assim, imaginamos estruturas capazes de resistir às condições mais adversas. A Estação Maitri II, localizada em um dos lugares mais remotos do planeta com presença humana, cumpre exatamente esse papel. Sua razão de existir é proteger e sustentar a vida, servindo como lar, local de trabalho e espaço de descanso. Projetos como esse devem ser pensados para atender às necessidades mais básicas do ser humano, incluindo o bem-estar físico e psicológico. Embora todas as estações científicas antárticas compartilhem essa missão, cada uma delas é única, adaptada às singularidades de sua localização. Para garantir que a vida seja preservada e o tempo de estadia seja qualificado, é essencial integrar-se à geografia e à paisagem da região. Esta proposta arquitetônica surge justamente dessa intenção, respeitando o meio ambiente, as condições pré-existentes e, acima de tudo, cuidando das pessoas.
Implantação
A estratégia de localização do complexo da nova estação posiciona a construção na porção noroeste do Lago Priyadarshini (também conhecido como Zub Lake). O lago é considerado um recurso de valor inestimável nesta proposta, e a escolha do local foi meticulosamente planejada para aproveitar as vantagens topográficas e ambientais da área:
1. Topografia favorável: As colinas da região formam dois platôs intermediários, situados em encostas suaves ou entre pequenas elevações, geralmente livres de acúmulos de neve. Essa configuração cria uma divisão natural que protege a área sudeste, próxima ao lago, da movimentação de veículos e de possíveis vazamentos de óleo ou resíduos.
2. Proteção contra ventos: A direção predominante dos ventos permite que resíduos gerados pela movimentação de máquinas, equipamentos e pessoas sejam naturalmente levados para o nordeste, evitando a contaminação do lago.
3. Organização por especialidades: Os dois platôs topográficos abrigam diferentes funções. Em um lado, concentram-se as áreas técnicas, depósitos e veículos; no outro, está a estação principal, com seus espaços de suporte imediato.
4. Acesso facilitado: A topografia suave permite a construção de estradas com declives moderados, sem grandes intervenções no solo, garantindo o abastecimento e o transporte de pessoas de forma eficiente.
A estação principal está situada em uma encosta suave, voltada para o sul/sudeste, oferecendo uma vista desimpedida da paisagem do Oásis Schirmacher. Desse ponto, é possível avistar o Lago Priyadarshini e a atual Estação Maitri em primeiro plano, enquanto o manto de gelo glacial domina o horizonte ao fundo.
Junto ao edifício principal, para maior eficiência, estão localizadas a central de geração e cogeração de energia, a estação de tratamento de resíduos e os depósitos de alimentos e materiais de consumo imediato. O segundo platô, a sudoeste da Estação Maitri II, abriga as estruturas técnicas, como garagens, oficinas, depósitos variados, além do heliponto e hangar.
Para conectar as principais edificações, o projeto propõe uma passarela elevada em formato de ponte, integrando todo o complexo. Os tanques de combustível, por questões de segurança, estão posicionados a uma distância segura das áreas habitadas.
O acesso às instalações ocorre ao nível do solo, próximo à porção central da estação principal. Nesse piso, há uma sala de secagem aquecida, onde roupas, casacos e botas podem ser armazenados. A partir daí, escadas conectam os pavimentos superiores, com guindastes posicionados estrategicamente para facilitar o transporte de cargas em plataformas do tamanho de pallets.
Materiais e Estrutura
A estrutura das edificações é predominantemente feita de aço A633 classe E. Externamente, destacam-se as envoltórias em painéis de aço pintado, do tipo sanduíche, preenchidos com poliuretano (PUR ou PIR). Esses painéis podem ser coloridos de acordo com as cores nacionais da Índia, reforçando a identidade do projeto.
O sistema modular de construção é baseado em contêineres de 20 pés (high cube). A combinação desses módulos garante grande estabilidade estrutural e flexibilidade na criação de espaços internos. A utilização de contêineres facilita o transporte marítimo e permite que grande parte das instalações, isolamentos e revestimentos sejam pré-fabricados na terra firme, reduzindo significativamente o trabalho necessário no local de construção final. Em muitos casos, até mesmo o mobiliário pode ser instalado previamente. As fachadas contam com dupla camada de isolamento térmico, garantindo eficiência energética e conforto térmico.
O PROJETO
A EQUIPE
Autores Estúdio 41
Arq. Emerson Vidigal
Arq. Eron Costin
Arq. Fabio Faria
Arq. João Gabriel Cordeiro
Arq. Martin Goic
Colaboradores
Aline Eduarda Braz
Brenda Pimentel
Gabriela Zaruvne
Guilherme Fernando Pinto
Marina Ruiz
ARDEA
Consultoria de meio ambiente
Aurélea Mäder
Alice Palagi
Josiani Motta Pinto
Consórcio:
Estúdio 41
Afaconsult
Canal & Musse
Afaconsult
Projetos complementares
Coordenação
Rui Furtado
Maria Rui Castanhola
Marisa Ferreira
Agostinho Couto
Estruturas
Miguel Pereira
Virgilio Matos Silva
Geotécnia
Filipe Afonso
Hidráulicas
Paulo Silva
Tiago Lopes
Adriana Sousa
Jorge Nunes
Mecânicas
Carlos Almeida
Rui Alves
João Fitas
Elétricas e IT
Raul Serafim
José Vicente
Monica Fernandes
FICHA TÉCNICA
Estação Antártica Maitri II – 2024
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- Concurso internacional para proposta arquitetônica para a Estação Antártica de Pesquisa NCPOR Maitri II
- Area: 14 769 m²