Ecoparque Turístico Molhes da Barra – Rio Grande – RS

ECOPARQUE TURÍSTICO MOLHES DA BARRA

RIO GRANDE – RS – 2022

PROJETO VENCEDOR DO CONCURSO NACIONAL DE ARQUITETURA E URBANismo PARA O ECOPARQUE TURÍSTICO MOLHES DA BARRA.

Uma planície costeira, um estuário modificado pelo homem. Um local onde a paisagem, composta por grandes superfícies horizontais, expande-se visualmente, conectando terra e mar. Uma obra de engenharia que transforma a natureza local, para permitir a atividade humana.

O Ecoparque Turístico Molhes da Barra situa-se nesse ambiente de transição, interface entre elementos naturais e artefatos produzidos pelo ser humano, na busca de possibilitar a existência das nossas atividades cotidianas. A estrada de chegada, os molhes da barra, os trilhos, o enrocamento, são objetos inseridos nessa paisagem natural, e as estruturas do novo parque são, a partir disso, entendidas como oportunidades de diálogo com essas pré-existências.

Para permitir a ocupação organizada desse território singular, adotam-se cinco ações fundamentais, encaradas aqui como estratégias de implantação:

ACESSAR  – Permitir acessibilidade, através da construção de deques e pavimentações em lugares estratégicos, organizando os percursos entre a chegada do parque e: a estação de vagonetas, o deque principal e a Praia do Cassino.

EDUCAR – Ao longo de trilhas, propostas nos locais onde já houve maior intervenção humana, informar aos usuários sobre o ecossistema, a geografia, a fauna e a flora locais.

PRESERVAR – Nos locais onde as fitofisionomias estão em bom estado de conservação, promover intervenções de baixo impacto, permitindo a preservação e recomposição gradativa dos elementos naturais.

ENTRETER – Seja logo na praça de chegada, no deque principal ou junto à praia/atracadouro, a intenção é promover atividades recreativas para os visitantes, pautadas pela conservação e contemplação do ambiente natural.

ATIVAR – Pensar em novas referências de espacialidade que ativem os usos já existentes, especialmente a atividade dos vagoneteiros. Dessa forma, a gastronomia, a prestação de serviços, a implantação de lugares de estar e os passeios  devem permitir às pessoas a fruição da paisagem local e o cuidado com o meio ambiente.

Implantação

Dois acessos de pedestres se configuram a partir da Avenida Almirante Maximiano. O primeiro deles, antes do estacionamento, serve aos moradores da Vila da Barra, vagoneteiros e pedestres que pretendem visitar as trilhas ou a praia. O segundo acesso, parte de uma praça de chegada implantada junto ao estacionamento.

Essa pequena praça de chegada articula os fluxos de usuários. Junto a ela se posiciona a área de embarque e desembarque de passageiros, seja de ônibus ou automóveis. A partir daí as pessoas seguem à estação de vagonetas, na direção sudeste, ou, por um deque elevado, construído a nordeste, podem acessar o deque principal e a área gastronômica.

O acesso de veículos ao interior do parque é restrito. Somente com a finalidade de carga e descarga da área gastronômica. Por conta disso, a estratégia de implantação, traça uma linha limítrofe antes da qual os automóveis são admitidos. Por isso o estacionamento é implantado numa faixa paralela à Avenida Almirante Maximiano da Fonseca, reservando as demais áreas para preservação e para os caminhos de pedestres.

Dois conjuntos de paraciclos resolvem a necessidade de vagas para bicicletas. O primeiro próximo ao estacionamento principal e o segundo junto à entrada da Praia do Cassino.

A estação de vagonetas, proposta na posição atual dos contêineres, qualifica esse uso, já tradicional e promovendo ainda mais a atividade turística. Funciona como uma estação de trem na qual se sugere uma estrutura composta por: plataforma, pequena bilheteria/administração e sanitários de uso público.

O vento, a insolação e a variação de temperatura são fatores determinantes para entender a utilização ao ar livre de equipamentos como o deque principal e a área gastronômica.

Esse conjunto de edificações e espaços livres, principal intervenção dessa fase do Ecoparque, é configurado através da presença de três objetos na paisagem: o mirante e dois outros volumes multifuncionais.

O mirante se coloca como o lugar das visuais, não só da região do parque, mas também do Molhe Oeste e da Praia do Cassino. O bloco central abriga restaurante, loja e sanitários de uso público. O terceiro elemento construído resolve a necessidade apontada em edital de um segundo programa gastronômico. A abordagem do programa de necessidades, dividido em estruturas menores, parte da intepretação de que esse lugar é regido pela sazonalidade: dia e noite, verão e inverno, dia comum e final de semana. Para isso são propostas: mesas ao ar livre, mesas sombreadas e mesas internas. Isso permite organizar os horários de atendimento de cada local de forma independente, ou seja, nem todas as estruturas precisam estar abertas o tempo todo.

A subdivisão programática busca também um ajuste da escala desses elementos numa paisagem tão sensível sob os aspectos naturais, humanos e morfológicos. A silhueta e as proporções dos volumes constroem uma nova abordagem arquitetônica do lugar revelando, passo a passo, novos elementos e espaços para quem percorre o parque a pé.

Na direção norte o deque se conecta às pequenas praias do parque e culmina no atracadouro proposto como uma continuidade linear, natural e singela. Além da reforma na estrutura existente, entende-se necessária a conexão de pedestres proposta, através de um deque em madeira.

Estrutura

A estrutura dos principais elementos construídos do Ecoparque Turístico Molhes da Barra baseia-se no sistema de madeira serrada, em peças leves, com junções conexões originadas na carpintaria tradicional. A tectônica desses elementos em madeira estabelece um contraponto à materialidade das rochas usadas nos quebra-mares. Os painéis de vedação propostos são de OSB impregnado com impermeabilizante e selador em tonalidade avermelhada. Esse tom quente dos elementos edificados configura a materialidade e a textura dos artefatos arquitetônicos do lugar, contribuindo para construir também a identidade da intervenção.

As edificações e decks são estruturadas no sistema laje-viga-pilar, utilizando madeira serrada e conexões com chapas e parafusos galvanizados. Nos níveis de pavimentos e cobertura as vigas têm seção duplicada: cada uma das partes conectando-se lateralmente no pilar. Os painéis de madeira dos pavimentos são construídos para ter papel importante como parte do contraventamento. Nos planos horizontais os painéis enrijecem as vigas para que formem diafragmas rígidos, permitindo que o conjunto trabalhe conectando os planos externos verticais lançados na mesma direção (das vigas) e garantindo a estabilidade nesta linha de ação de vento. Na direção oposta às vigas, os pilares têm quadros formados por vigas rígidas lançadas ao longo da altura e contraventamento por cabos formando “X”. Dessa forma é obtida a estabilidade tridimensional.

Passarelas

As passarelas têm estrutura numa composição espacial formada por peças de madeira serrada, conectadas por chapas e parafusos. Em corte, a partir de uma viga central em arco abatido de seção retangular, partem, em intervalos regulares, escoras de madeira em seção quadrada em direção a cada borda do tabuleiro; a viga central é apoiada nas extremidades e em sistema de pilares inclinados num desenho tridimensional. Em cada borda da passarela surge uma viga em arco abatido, apoiada na escora e travada lateralmente pelas vigas do tabuleiro, ao mesmo tempo que servem de apoio vertical a elas. O sistema tem contraventamento no próprio plano do tabuleiro em conjunto com os pilares inclinados intermediários; assim, tem estabilidade tridimensional e contém as torções. A solução com viga em arco abatido central é estruturalmente eficiente quando comparada a uma viga de seção reta; os empuxos que surgem são resolvidos na fundação.

Localização

A localidade da Lagoinha da Barra – área de interesse deste Concurso – está situada na base do Molhe Oeste, no município de Rio Grande-RS, na orla da extremidade meridional do Estuário da Lagoa dos Patos, um complexo de mais de 10 mil quilômetros quadrados que constitui o maior estuário estrangulado do mundo, compreendendo ambientes cuja distribuição no Brasil se restringe à costa do Rio Grande do Sul. Nele, as condições ambientais são determinadas pelos movimentos de expansão e retração da água costeira, podendo variar em questão de horas: a passagem de água doce advinda de uma grande bacia de drenagem e a intrusão de água salgada do mar estabelecem as características físico-químicas que controlam os processos ecológicos.  Áreas abrigadas com disponibilidade de alimentos servem de proteção e garantem condições de crescimento e reprodução de crustáceos e peixes marinhos que visitam o estuário periodicamente, constituindo-se na mais importante área de criação, alimentação e reprodução de muitas espécies marinhas do sul do Brasil.

A região apresenta uma grande diversidade de habitats, plantas e animais. Este projeto pode servir, portanto, como uma área demonstrativa dessa riqueza, colocando-a em foco por meio de ações de educação ambiental. Mais que intervir no espaço vegetado – exceto por ações pontuais de restauração ecológica que serão descritas abaixo – é preciso evidenciar a beleza e a importância dos ambientes e dos seres-vivos que se encontram ali. Para tanto, é proposto um Circuito ambiental de trilhas, aproveitando parte do traçado pré-existente, que perpasse os diferentes tipos de habitats, convidando o visitante a conhecê-los por meio da experiência direta, de forma individual ou em grupos organizados, e de placas de sinalização com conteúdos sobre habitats, flora e fauna.

Habitats

Entre os habitats presentes no terreno, predominam as marismas, ambientes altamente produtivos dominados por capins e outras ervas. As marismas possuem um gradiente vertical de alagamento entre maré baixa e maré alta e, consequentemente, de interações biológicas. Especificamente, predominam na Lagoinha as marismas médias e superiores, ladeadas por finas faixas de marismas inferiores, normalmente inundadas, em meio a planos de lama (áreas areno-lodosas não-vegetadas).

O segundo ambiente mais representativo na Lagoinha da Barra são as dunas, que também podem ser caracterizadas segundo um gradiente vertical de altura: dunas frontais, dunas estabilizadas e áreas de transição duna – campo. Esses ecossistemas desempenham importante papel ecológico na manutenção da integridade das regiões costeiras e possuem uma flora específica e típica, que suporta uma grande diversidade de fauna. Na área de projeto, nota-se que as áreas de transição duna – campo apresentam sinais de degradação, como evidenciado pela baixa cobertura vegetal e a presença de espécies ruderais tais como Melinis repens (capim-gafanhoto, espécie listada como invasora no RS) ou Andropogon bicornis. Nessas áreas, intervenções pontuais de restauração ecológica contribuirão para reestabelecer ecossistemas naturais, como sinalização para evitar pisoteio e degradação ao longo das trilhas, controle de espécies invasoras e semeadura pontual de espécies nativas.

Flora

Em um levantamento realizado por Marangoni (2003), foram catalogadas 29 espécies de plantas de 12 famílias botânicas no local. As espécies são em sua grande maioria herbáceas (sobretudo capins nativos), ocorrendo também a presença de algumas espécies arbustivas/arbóreas e um tipo de trepadeira. Um terço das espécies são típicas de marismas; um terço corresponde a plantas de dunas; e outro terço a plantas características de campos.

Fauna

O Estuário da Lagoa dos Patos é um importante local de reprodução de peixes e crustáceos estuarinos – caso do emblemático catanhão (Neohelice granulata), que pode ser encontrado em altíssimas densidades em uma poligonal no interior da área de projeto. Entre as cerca de 190 espécies de aves registradas na área do Estuário, destacam-se várias aves migratórias, tanto visitantes austrais quanto setentrionais, muitas delas congregando-se em números expressivos.

O PROJETO

A EQUIPE

Autores

Arq. Emerson Vidigal

Arq. Eron Costin

Arq. Fabio Faria

Arq. João Gabriel Cordeiro

Arq. Martin Goic

Colaboradores

Camila de Andrade

Guilherme Fernando Pinto

Tamy Pesinato

Consultores

Mariana Siqueira (Paisagismo)

Ricardo Henrique Dias (Estruturas)

FICHA TÉCNICA

Ecoparque Turístico Molhes da Barra – Rio Grande – RS – 2022

  • Projeto de ecoparque turístico no Molhes da Barra em Rio Grande – RS, com área total de aproximadamente 12 ha., envolvendo atividades turísticas, a preservação ambiental, estímulos econômicos para a comunidade local e atividades educacionais, culturais e de lazer.
  • Área de Decks: 2 300 m²
  • Restaurante: 180 m²
  • Lancheria e Loja: 150 m²
  • Praça acolhida: 2 533 m²
  • Trilhas a nível do solo: extensão aprox. de 1,8 km

@ Estúdio41 Arquitetura. Design: 095
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